Sob Risco de Ser Preso, Bolsonaro Cancela Participação em Atos da Oposição na Câmara
Brasília — Em meio a um clima de tensão crescente entre os Poderes e sob o risco iminente de prisão, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) optou por recuar. Na manhã desta terça-feira (21), cancelou de última hora sua participação em reuniões estratégicas na Câmara dos Deputados, em que apoiadores discutiriam moções contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e reforçariam a pauta da anistia para os condenados pelos atos de 8 de janeiro.
O recuo acontece poucas horas após o ministro Alexandre de Moraes, do STF, determinar que a defesa do ex-presidente se manifeste com urgência sobre o suposto descumprimento das medidas cautelares impostas pela Corte. Moraes apontou que Bolsonaro pode ter violado as regras ao interagir com parlamentares e utilizar, mesmo que indiretamente, redes sociais durante sua visita recente ao Congresso.
Desistência de última hora e bastidores de pressão
De acordo com fontes próximas ao ex-presidente, Bolsonaro estaria sendo orientado juridicamente a evitar qualquer nova exposição pública que possa ser interpretada como afronta direta às determinações judiciais. A presença dele nas comissões de Segurança Pública e de Relações Exteriores da Câmara estava confirmada até o início da manhã. No entanto, ao tomar conhecimento da reação de Moraes, optou por permanecer recolhido na sede do Partido Liberal, onde manteve agenda interna.
Nos bastidores, a decisão foi vista como um gesto de cautela. Interlocutores afirmam que Bolsonaro teme uma eventual ordem de prisão, caso o STF interprete como deliberada a violação das medidas restritivas — especialmente a proibição de uso direto ou indireto de redes sociais, determinada após sua participação nos atos investigados de tentativa de golpe.
Comissões mantêm pauta de enfrentamento ao STF
Apesar da ausência do ex-presidente, a articulação bolsonarista na Câmara seguiu com sua programação. As comissões mantiveram a votação de moções de repúdio às decisões recentes do Supremo, especialmente as que envolvem diretamente Bolsonaro.
Aliados próximos destacaram que a movimentação parlamentar visa manter o ex-mandatário em evidência, reforçando a narrativa de que há uma perseguição judicial em curso. A estratégia, segundo esses parlamentares, é consolidar a imagem de Bolsonaro como vítima de abusos institucionais, especialmente junto à militância conservadora nas redes.
O discurso da anistia e a resistência no Congresso
Durante encontros realizados na segunda-feira com deputados da base, Bolsonaro voltou a pressionar por prioridade na votação da proposta de anistia aos envolvidos nos atos do dia 8 de janeiro de 2023. O projeto, considerado por setores da oposição como um “gesto humanitário”, visa perdoar os condenados e investigados por suposta tentativa de golpe.
Apesar da articulação, o texto enfrenta forte resistência, tanto por parte de setores do Congresso quanto do Executivo. Críticos afirmam que a aprovação da anistia fragilizaria o princípio da responsabilização e abriria precedentes perigosos em termos democráticos. Ainda assim, a insistência de Bolsonaro nesse tema se tornou um eixo estratégico de sua rearticulação política.
Nova ofensiva contra o STF: pedidos de impeachment em pauta
Outro ponto que voltou ao radar da base bolsonarista é a retomada da discussão sobre possíveis pedidos de impeachment contra ministros do STF, com foco especial em Alexandre de Moraes. Bolsonaro tem incentivado abertamente a apresentação desses pedidos, mesmo com consciência de que não há ambiente político para seu avanço.
Parlamentares próximos reconhecem que a movimentação tem valor simbólico: serve para manter viva a tensão institucional, alimentar o discurso de resistência e manter engajada a militância digital, uma das maiores forças da direita brasileira na atualidade.
Tornozeleira e provocação: o episódio que reacendeu o alerta
A tensão entre Bolsonaro e o Judiciário atingiu novo patamar após a visita do ex-presidente ao Congresso na segunda-feira. Em um gesto simbólico, ele exibiu publicamente a tornozeleira eletrônica que foi obrigado a usar por determinação do STF.
O gesto foi interpretado por Moraes como provocação direta. Poucas horas depois, o ministro emitiu despacho cobrando explicações da defesa de Bolsonaro sobre o descumprimento das medidas cautelares, especialmente a proibição de uso de redes sociais — restrição que pode ter sido violada ao se comunicar com a base de apoiadores durante o evento.
No documento, Moraes foi enfático: se não houver justificativa plausível, a prisão imediata do ex-presidente pode ser decretada. O alerta mobilizou a cúpula do PL e acendeu o sinal vermelho entre os aliados.
Juristas divergem sobre eventual prisão
Especialistas em Direito Constitucional divergem sobre a possibilidade de prisão imediata de Bolsonaro. Enquanto alguns defendem que o descumprimento das medidas cautelares justificaria a adoção de medidas mais rígidas, outros alertam para o risco de se configurar abuso de autoridade e interferência política no processo judicial.
Para o ministro Luiz Fux, por exemplo, que recentemente divergiu de Moraes ao votar contra a imposição da tornozeleira, não há provas concretas de que Bolsonaro esteja conspirando ou planejando fuga. Fux destacou os princípios da liberdade de expressão e de locomoção como garantias que devem ser respeitadas, mesmo diante das circunstâncias excepcionais.
Um Brasil em suspenso
O cenário atual coloca o Brasil em uma encruzilhada política e institucional. A figura de Jair Bolsonaro continua sendo polarizadora, tanto no Congresso quanto nas ruas. Enquanto parte da população e da elite política vê nele um líder injustiçado e vítima de perseguição, outro segmento enxerga perigo à democracia em sua retórica e atos.
O cancelamento de sua participação nas comissões da Câmara evidencia o peso das decisões do STF sobre sua atuação política. Ao mesmo tempo, revela o esforço da oposição para manter acesa a chama da mobilização.
Nos próximos dias, todas as atenções estarão voltadas ao próximo movimento de Alexandre de Moraes e à resposta jurídica da defesa. Se o STF decretar a prisão do ex-presidente, o país poderá enfrentar uma nova onda de tensões — não apenas nos tribunais, mas nas ruas e nas instituições.
Nenhum comentário:
Postar um comentário